O navio Maersk Triple E dificilmente passa despercebido nos portos por onde atraca.
Com capacidade para 18 mil contêineres é o maior cargueiro do mundo.
Ele tem 400 metros de comprimento (isso mesmo, quase meio quilômetro). Só para escala, imagine que dar 50 voltas em torno dele, se isso fosse possível, na água, seria o equivalente a uma maratona.
Suas 53 mil toneladas (descarregado) equivalem a cinco Torres Eiffel.
Seus dois motores conseguem levar esse colosso a 35 quilômetros por hora, podendo chegar a 46 quilômetros por hora.
Consomem, cada, 20 mil litros de combustível por dia. Seus dois hélices de quatro lâminas cada têm 10 metros de diâmetro.
Pode ter certeza que sua aparente lentidão expressa grande potência: mover milhões de quilogramas a essa velocidade produz uma força de arrasto difícil até de imaginar.
Se você fosse um barquinho a remo, a última coisa que você iria querer era estar no caminho desse monstro.
E mais: não iria querer estar sequer a 50 metros dele.
A força de arrasto não só iria balançar seu bote a ponto de virá-lo: iria sugá-lo para debaixo da água como se fosse um graveto.
A imagem chega a ser assustadora.
1. A REALIDADE DO MERCADO
A bolsa de valores está cheia de "Maerks Triple E". São os investidores institucionais, aqueles participantes do mercado cujas posições e potência financeira são tão gigantescas que, assim como o navio, cada mudança de trajeto precisa ser milimetricamente calculado.
Imagine o custo, em combustível, para fazer esses colossos darem a volta, irem de um trajeto para o leste para um trajeto para oeste. Se o capitão quer mudar o rumo do navio, precisa começar a fazê-lo quilômetros antes: não dá para dar uma cavalo de pau com um bicho desses.
Do mesmo modo, para os investidores institucionais saírem de posições vendidas gigantescas para posições compradas, o início do movimento começa muito, mas muito antes do momento em que conseguimos perceber (sem as ferramentas adequadas) que esse movimento, simplesmente pelo comportamento do preço.
2. BARQUINHOS SENDO SUGADOS PELA FORÇA DE ARRASTO DOS TITÃS
Diariamente vemos os barquinhos a remo dos traders de varejo sendo arrastados pela força dos investidores institucionais para o fundo do mar.
Os investidores institucionais são responsáveis por mais de 80% dos negócios do mercado. Seu rastro é visível como aquele deixado por centenas de metros de turbulência atrás de um "Maerk Triple E", mas é solenemente ignorado pelos pequenos traders ou porque não têm as ferramentas ou porque simplesmente não sabem que esse rastro é importante.
Pois eles estão concentrados nos preço e ignoram o volume: isso mesmo, usam metodologias e indicadores baseados em preço e, assim, tratam navios gigantescos como se fossem jet-skis. Se aproximam deles de qualquer modo e morrem, sem saber surfar o arrasto adequadamente.
3. O PREÇO NUNCA ESQUECE O VOLUME
Quando um volume muito grande se movimenta em determinada faixa de preço, essa faixa de preço fica marcada. Pense na cicatriz aberta no mar calmo quando esse grande navio singra sua superfície. O preço não esquece o volume por um tempo mais ou menos longo, por vezes minutos, por vezes meses ou até anos.
Assim, o valor de um ativo quando passa por esse rastro, por essa cicatriz, terá certos comportamentos importantes quando passar por ele novamente.
Essas regiões de alto volume, onde 70% dos negócios do mercado ocorre em certo intervalo de tempo é o que chamamos de "Zona de Valor", aquele intervalo em que o grosso do mercado aceita negociar, onde os Maerks Triple E aceitam navegar. Isso acontece em qualquer ativo da bolsa de valores. Dentro das Zonas de Valor teremos ainda os Pontos de Controle (POC), pontos com volume concentrado.
Acima da Zona de Valor, estamos em uma área de sobre-combra. Abaixo dela, em uma área de sobre-venda.
E, no meio disso tudo, pontos em que os Maerks Triple E apertam o acelerador, tornando a força de arrasto em sua popa ainda mais avassaladora.
4. COMO USAR OS PONTOS DE ACELERAÇÃO DOS GIGANTES
Os nós de alto volume, os picos de alto volume, os momentos em que os navios de carga do mercado dão aquela acelerada, podem servir como referência não para nos afogarmos puxados para as profundezas por eles, mas para surfarmos adequadamente as ondas que esses investidores institucionais estão levantando no mar do mercado.
É importante que você tenha as ferramentas corretas para mapear esses nós, esses pontos de aceleração, que você saiba mapeá-los para saber o momento certo de entrar numa onda. Como um surfista, você não quer ser encoberto, levar uma "vaca"... você pode ir com a onda, em harmonia.
Via de regra, esses momentos de alto volume, ainda que no passado, são respeitados pelo preço: são os verdadeiros suportes e resistências. E isso não tem nada a ver com os fatos, notícias, acontecimentos que provocaram esse volume anterior. Especular sobre isso é pior que usar astrologia para negociar. O volume elevado em certa zona de preço é mais poderoso que qualquer acontecimento político ou econômico.
Sua estratégia, portanto, precisa estar atenta ao volume do passado, em que pontos os grandes volumes aconteceram e à observação de como o preço se comportou ao encontrar esses nós de grande valor. Se você ficar satisfeito com o comportamento do preço nesses pontos, se é possível fazer uma leitura preditiva a partir deles, esse ativo é um grande candidato a trades de alta probabilidade.
Dessa maneira, é possível colocar nosso pequeno veleiro em um mar apinhado de cargueiros gigantescos, não só sobreviver como também chegar mais rápido.