Nós sabemos que nossa postura sempre foi de dizer que bolsa é lugar de especulação e não de investimento.
Também dizemos que operações de curtíssimo prazo, nesse contexto, sempre são muito mais seguras que imaginar que as de longo prazo na bolsa de valores.
Mas neste momento em que estamos enfrentando uma das maiores crises recentes da história do mercado, quero compartilhar com você o que faço em momentos como este.
A estratégia Sato’s Kamikaze.
O meu testemunho de crises
Eu peguei todas as crises dos últimos 23 anos, desde que iniciei meus estudos e minhas atividades nesse setor.
Acompanhei de perto e, algumas delas, senti na pele. E aprendi com todas elas, desde 1997.
A crise asiática, a russa, a desvalorização cambial no Brasil, a desvalorização monstra da Nasdaq, no ano 2000, a crise argentina, o subprime, em 2008.
Mas confesso a você: nunca vi uma crise da magnitude da que estamos testemunhando.
Por um lado, é um privilégio acompanhar um fato histórico de dentro de uma das áreas mais afetadas por ele, no caso, de dentro do mercado, uma vez que estou completamente envolvido por esta realidade. É uma das minhas paixões, é uma das minhas fontes de remuneração, é o meio pelo qual pretendo deixar meu legado, não só para minha família e pessoas queridas, mas também para milhares de alunos.
A crise do corona vírus é, sim, a maior desde que comecei. Ela tem proporções épicas. Parece coisa de obras de Hollywood, tantos que assombraram a imaginação de roteiristas, diretores e público de filmes catástrofe.
E muitos dentre nós estão se perguntando o que fazer. Até mesmo os maiores fundos de ações brasileiros, comandados por algumas das mentes mais brilhantes do setor, estão em estado de perplexidade, perdendo metade ou até mais de seu patrimônio.
Mas preciso dizer.
Em todas as crises que antecederam esta, eu pensei: não é possível. O mercado não vai se reerguer mais.
E, a história, tantas vezes repetida, me mostrou que, em todas as ocasiões, eu estava enganado.
O mercado não só se reerguia como também superava patamares passados em alguns anos e, às vezes, meses ou mesmo semanas. Para consternação de quem, em pânico, vendeu ativos por frações do preço em que foram comprados.
A verdade: esta não vai ser a última crise. Talvez não seja nem a maior que veremos
O que fazer: Sato’s Kamikaze
Agora é o momento que muitos de nós estavam esperando.
Sei que eu sempre disse que não devemos ver a bolsa como investimento, mas como especulação.
Porém, o que estamos vendo é que muitas empresas estão negociando muito abaixo de seus múltiplos.
Podemos falar em barganhas, sim.
Isso quer dizer que chegamos ao fundo do poço?
Não.
A bolsa pode cair muito mais ainda.
Por isso, uso, nestes momentos, a técnica e o mindset que chamei de Sato’s Kamikaze.
Em que consiste isso?
É simples: eu só penso em ações como investimento de longo prazo em momentos de crise, quando todos estão desesperados.
E o que eu faço?
Escolho ações de empresas sólidas e negociadas muito abaixo de seu preço justo e compro.
Porque eu sei que vai subir amanhã?
Não.
Eu não sou adivinho.
Aqui entra a disciplina.
Se cair mais na semana ou no mês que vem, eu compro mais. Um pouco a cada vez.
Veja o exemplo da Nasdaq, no ano 2000.
No início da crise, caiu 50%. Este é o momento em que eu entraria comprando nessa estratégia.
Você deve estar pensando: o Sato é esperto. Ele compraria e a bolsa começaria a subir a seguir.
Nada disso. A Nasdaq caiu mais ainda chegando a perder 85% do valor em relação ao topo de 2000.
E, o pior, agora foi um processo lento: levou 3 anos.
E acredite: a indicação, na estratégia Sato’s Kamikaze é continuar comprando, como se fosse um “dízimo”, um “ofertório”. Um pouco a cada período, um pouco a cada queda, disciplinadamente. Nunca tudo numa cartada só.
Daqui a pouco vou falar desse conceito de “ofertório” ou “dízimo”.
Então, passados 3 anos, com compras periódicas e disciplinadas, você deve estar imaginando que toda essa paciência foi finalmente recompensada.
Mais ou menos. Até subiu. Mas, em 2007, a Nasdaq voltou a testar o fundo anterior.
Veja, já estamos falando de 7 anos de compras pacientes e, até o momento, sem retorno algum, somente algum entendimento de que as empresas escolhidas para nossos investimentos são sólidas, perenes e promissoras.
Nem parece que sou eu falando. Mas é isso aí mesmo. Eu estou apresentando pra você um plano de independência financeira no longo prazo.
Finalmente, 16 anos depois, em 2016, a Nasdaq chegou aos níveis em que estava em 2000.
Nesse momento, se você foi disciplinado, sempre colocando um pouco de sua renda mensal nas empresas que escolheu seu dinheiro já teria sido enormemente multiplicado.
E aí entra a segunda e talvez a mais difícil parte da disciplina.
A parte mais difícil da disciplina da filosofia do Sato’s Kamikaze
A parte mais difícil da disciplina da filosofia do Sato’s Kamikaze é NÃO VENDER quando vir seu dinheiro sendo multiplicado.
Mas sobre isso vou entrar em mais detalhes na parte em que explico o mindset necessário para aplicar o Sato’s Kamikaze.
O fato é que quem segurou suas ações até 2020 viu uma valorização, de um fundo que foi de 900 pontos em 2003 para 8 mil pontos este ano.
Mesmo a crise que assistimos nos últimos dias serve para abalar o patrimônio de quem fez isso.
Porém, estamos falando de 20 anos.
Pode ser como em 2008, em que as bolsas se recuperaram em poucos meses? Pode.
Mas não sabemos.
E nem sabemos se já estamos no fundo.
O que você deve fazer no Sato’s Kamikaze? Não tentar adivinhar. Compre. Aos poucos, respeitando seu limite de risco e patrimonial. Mas compre. Não deixe passar a oportunidade.
O que me motiva a começar a Sato’s Kamikaze?
O primeiro motivo é a crise.
E essa é uma das maiores que pude acompanhar nos últimos tempos.
O segundo é o volume dos negócios.
O volume, em alguns ativos, é o maior da história, com inegável participação institucional, companhias de grande calibre negociando ações.
Comprando ou vendendo?
Se estiverem vendendo, isso indica que a queda continua. Se estiverem comprando, a ideia é que tenhamos uma alta em algum momento.
Sim, elas podem estar enchendo o carrinho, fazendo suas provisões para quando a próxima e violenta alta for desencadeada como tantas vezes vimos na bolsa após uma crise.
Enquanto todo o mundo está enchendo o carrinho com papel higiênico, os big players podem estar enchendo o carrinho com ações e outros ativos.
Essa alta vai acontecer amanhã ou daqui a dez? Não sei. Não vou cansar de repetir. O objetivo do Sato’s Kamikaze não é adivinhar.
O volume, portanto, é outro dos fatores que me faz olhar para este ou outro ativo, pois demonstra um interesse maior dos institucionais.
Outro motivo são os fundamentos das empresas: sua capacidade de atravessar uma crise como esta, em que pode faltar crédito, capital de giro, público consumidor, em que pode haver desemprego e até uma longa recessão mundial.
Mais abaixo, temos um infográfico em que registro o preço de hoje de ativos em que estarei de olho. A ideia é que você salve esse infográfico e, daqui a 5 anos e, depois, daqui a 10 anos, faça o comparativo para ver se eu estava certo.
Problemas da estratégia Sato’s Kamikaze
A estratégia Sato’s Kamikaze tem alguns problemas:
- Eu não sei do potencial financeiro de cada um que está me lendo: mas se você só puder começar com apenas R$ 500 por mês, comece. Se tiver que escolher investir em ações em um fundo, comece. Nem todos têm R$ 50 mil para começar ou R$ 100 mil... e ainda por cima respeitando o seu apetite maior ou menor pelo risco
- Nem todos têm a paciência para vislumbrar um resultado positivo daqui a dez ou mesmo vinte anos e se comprometer com ele
- Ok, você começou a comprar ações depois da bolsa cair 50%. Já tem algumas. E, então, a caldeira de Yellowstone explode e a bolsa cai mais 80% porque metade dos Estados Unidos foi diziamada. Você tem coragem e disciplina para se manter nessa estratégia?
- E se algo assim acontece e a bolsa ficar um ano, dois anos fechada? Você encara?
- Se a bolsa subir e você vir seus R$ 50 mil virarem R$ 100 mil ou R$ 150 mil, vai resistir e não vender antes do tempo certo de colher os frutos?
Essa estratégia é baseada em muitos dos meus instintos e em padrões que vi se repetirem ao longo dos anos em todas as crises a que assisti.
Não estou falando de padrões que vi em algumas das crises a que assisti.
Estou falando de todas.
Todas.
Tudo isso me faz acreditar que... acreditar não. Saber que os momentos de pânico são um ótimo momento para começar a conquistar a liberdade financeira de forma sólida.
E como superar todas as dificuldades listadas acima vem do mindset necessário para torná-la operacional.
E é o mesmo motivo pelo qual esta estratégia se chama Sato’s Kamikaze.
O mindset
O Japão, no final da Segunda Grande Guerra, estava quase derrotado.
Sem ter meios efetivos de destruir a marinha dos Estados Unidos, as forças armadas do país do sol nascente treinaram os pilotos que lhes restavam para desempenhar missões suicidas, movidas pela honra e o senso de dever em relação ao imperador.
Enchiam os Zero – os fantásticos, baratos e altamente manobráveis caças criados pela Mitsubishi, com longo alcance e razão de subida inigualável – com explosivos.
Os pilotos, então chamados de Kamikaze (vento divino), entravam nessas verdadeiras bombas e faziam seu último voo em direção aos navios inimigos. A artilharia americana tinha muita dificuldade de atingir essas naves assassinas e suicidas antes que elas atingissem seu objetivo e diversos vasos de guerra sucumbiram.
Não. Não estou pedindo para que você entre em uma missão suicida.
Tampouco estou pedindo para que você faça seu dinheiro todo “se suicidar”.
O que estou falando é que o dinheiro que você empregar nessa estratégia Sato’s Kamikaze seja tratado como se não existisse.
Como se você tivesse jogado no lixo.
Como se você fosse o Coringa, em O Cavaleiro das Trevas, colocando fogo em milhões de dólares.
Um pouco de dinheiro por mês irá, a partir de agora, para essa estratégia.
Como se fosse uma doação a uma instituição de caridade.
Como se fosse um ofertório na igreja ou um dízimo.
Só que a pessoa que será beneficiada por essa instituição de caridade não é ninguém mais ninguém menos do que seu eu futuro.
Seu eu daqui a 10 anos. Talvez daqui a 20. Talvez os seus, que serão beneficiados por sua disciplina, paciência (japonesa?) e desapego das recompensas imediatas.
O dinheiro que você usar para comprar as ações escolhidas não é mais seu, mas desse seu eu que está num futuro mais ou menos distante.
De preferência, nem olhe o valor de seu saldo na corretora. Esqueça. E continue comprando a cada queda, a cada período, até colher, um dia, os frutos merecidos.
Abaixo, publicamos um infográfico com as ações que estarei observando a partir de agora.
Salve o infográfico e, daqui a alguns anos, dê uma olhada nos resultados.
Conclusão
O Sato’s Kamikaze, como você viu, tem alguns pré-requisitos:
- Crise: estamos numa das mais violentas das últimas décadas
- Paciência: não é para quem quer resultados amanhã ou ano que vem
- Disciplina: um pouco de dinheiro investido a cada vez
- Comprar mesmo quando cair mais
- Desapego do dinheiro investido (como se tivesse doado ou botado fogo)
- Resistir a vender nos primeiros momentos em que a estratégia começar a se pagar
- Pode levar até duas décadas para apresentar resultados e com mais crises nesse período