Você conhece os robôs HFT? Esses algoritmos são programados para se aproveitar dos menores desequilíbrios do mercado posicionando e reposicionando ordens em milissegundos
Robôs HFT são os robôs de High Frequency Trading ou, em português, robôs de alta frequência de negociação.
Imediatamente, quando falamos em “robôs” imaginamos seres de lata em um formato mais ou menos humanoide.
Não é bem assim. São algoritmos. Programas de ponta rodando em computadores poderosos e que fazem negociações ultra velozes na bolsa de valores.
E, embora muita gente diga o contrário, eles estão presentes sim na bolsa brasileira e estima-se que, mundialmente, sejam responsáveis pela movimentação de 80% dos negócios dos mercados mundiais em termos de volume negociado.
Robôs HFT, como não podia deixar de ser, estão nas mãos dos investidores institucionais. Aquelas pouco mais de 100 companhias transnacionais que têm em suas mãos 50% do capital mundial através do controle acionário de outras tantas (umas 43 mil, segundo um estudo de 2011) que, juntas, representam a economia do globo.
Os robôs HFT são verdadeiros predadores da bolsa, programados pelas mentes mais geniais do planeta em termos de programação e matemática avançada. Seu objetivo: capital e liquidez. Eles estão a solta nos mercados e sua intenção é tirar o dinheiro de fundos de investimento, bancos centrais e outros investidores de certo porte.
Não se engane, eles não estão nem aí para os meus e os seus trocados. Isso é mixaria. Mas, se ficarmos no caminho, eles vão levar nosso dinheiro mesmo assim.
Máquinas não têm coração. Os donos dessas máquinas, menos ainda.
Assim, consideramos importante que você se conscientize da atuação dos robôs HFT e quais as intenções por trás daqueles que os controlam.
O QUE SÃO ROBÔS HFT (HIGH FREQUENCY TRADING)?
HFT que dizer High Frequency Trading ou, em português, Trade de Alta Frequência ou Alta Frequência de Negociação. Não importa. O importante é saber quão alta é essa frequência. Altíssima. Na casa dos milissegundos eles enviam e cancelam ordens de compra e de venda. Reposicionam ordens nessas frações de tempo, se aproveitando dos menores desequilíbrios entre os ativos.
Por exemplo, há alguns anos, era fácil fazer operações de arbitragem em que, pela diferença entre dois ativos similares, podíamos fazer operações relativamente seguras apostando na aproximação dos dois preços.
Digamos, se o mini índice futuro estivesse a 84560 pontos e o índice cheio estivesse em 84580, poderíamos comprar um e vender o outro sabendo que, em qualquer caso, seríamos compensados pelo fechamento da diferença de 20 pontos a qualquer momento, mesmo que fosse a 60 mil pontos.
Hoje, esse fechamento acontece em um tempo inimaginável de tão reduzido. Se você duvida, acompanhe a cotação do minicontrato de índice e contrato cheio simultaneamente.
Sabe por que isso acontece?
Por causa dos Robôs HFT.
Existe até uma preocupação e um preciosismo sobre a proximidade com que as máquinas que rodam os robôs HFT ficam da bolsa, pra evitar latências mais elevadas.
Sério.
Parece exagero. Mas não é.
Cada milissegundo é importante. Talvez estejamos falando de frações de milissegundo a esta altura do campeonato.
Quando surgiram os robôs HFT
Os primeiros robôs HFT surgiram nos Estados Unidos por volta de 1998.
Eles são usados principalmente pelos grandes investidores institucionais, que também chamamos de big players ou dinheiro esperto. Mais abaixo eu conto quem são esses personagens que dominam as bolsas mundiais com seu poderio financeiro, tecnológico e de recursos humanos.
Normalmente, traders e investidores de varejo não têm acesso a eles. Talvez indiretamente, através de um grande fundo que faça uso de robôs HFT em suas estratégias.
Os donos dos melhores robôs HFT do mundo
Sabe aquele famoso fundo de ações brasileiro que desempenhou como nenhum outro na última década e tem US$ 10 bilhões sob sua tutela?
Peixe pequeno.
Investidores institucionais são muito maior que isso.
Como dissemos no início deste artigo.
Um levantamento de um instituto tecnológico suíço mostrou, em 2011, que de milhões de empresas, 43 mil transnacionais, sozinhas concentram 99% do capital mundial, direta ou indiretamente via controle acionário, sociedade ou outras formas.
Acontece que, na época, 40% delas eram controladas por umas 140 através dos mesmos meios. Agora, imagine que passados 10 anos, a concentração aumentou. Vamos ser conservadores e dizer que, hoje, 100 controlam 50% ou metade do capital mundial, direta ou indiretamente via controle acionário.
Metade delas, 50 ou mais têm intensa participação na bolsa de valores. Estamos falando de trilhões e trilhões de dólares nas mãos de umas poucas companhias. Algumas delas têm um “PIB” maior do que o PIB de países importantes (E quem disse que as guerras, hoje em dia, são entre nações? As guerras são entre companhias).
Essas “companhias-países” têm nome, naturalmente. Cito algumas: Barclays, Capital Group Companies Inc., FMR Corporation, AXA, State Street Corporation, JP Morgan Chase, Legal and General Group, Vanguard Group, UBS e Merryll Linch, só pra começar.
Quem tem tanto dinheiro assim não tem problemas, certo?
Errado.
Muito embora os problemas dessas companhias sejam bem diferentes de nós, reles mortais, quando se trata de dinheiro.
Claro que elas têm obrigações a cumprir, dívidas, funcionários, alguns milionariamente remunerados... mas pra fazer esse dinheiro elas não podem olhar apenas para o preço dos ativos. Elas precisam de preços que consideram justos seja pra comprar e pra vender como de preços justos em zonas de liquidez ou em momentos de liquidez.
De fato, comprar uma quantidade enorme de ativos quando não há liquidez faria o preço subir pra zonas de preço mais altas e consideradas desvantajosas.
Vender uma quantidade enorme, faria os preços caírem de forma indesejada. Eles só podem comprar quanto tem muita gente querendo vender, espontaneamente. E só podem vender quando tem muita gente querendo comprar.
E, se se chega a um preço justo, é preciso manter esse preço pelo maior tempo possível enquanto houver liquidez.
E é nessa tarefa que os robôs HFT entram.
Os robôs HFT têm a missão de buscar liquidez a preços atrativos.
E, se não houver liquidez nos patamares desejados, “inventar” liquidez, tirar da cartola nem sempre usando métodos muito éticos.
COMO FUNCIONAM OS ROBÔS HFT?
Os robôs HFT, como o nome diz, realizam trades em alta frequência. Mas pra que serve essa alta frequência?
Não só pra fazer arbitragem e se aproveitar dos menores desequilíbrios entre oferta e demanda que eles, através de seus algoritmos, programação e fórmulas matemáticas avançadas.
Existem estratégias usadas pelos robôs HFT que servem pra buscar e manter liquidez a certos níveis de preço ou de queda ou subida de preços de um ativo.
Aqui, vale a pena um parêntese importante: os investidores institucionais compram e vendem ações no sentido contrário do que imaginamos. Geralmente, aproveitam a liquidez de uma queda pra comprar ativos cada vez mais baratos e depois, com o uso do seu poder em volume de ativos e financeiro, provocar uma alta. E aproveitam da liquidez da alta por eles iniciada pra desovar ativos cada vez mais caros. Sobre isso, considero que seja importante você ler nosso artigo sobre investidores institucionais e sobre as fases dos ciclos de mercado.
Mas vejamos algumas das formas que os robôs HFT usam para tirar dinheiro do mercado (apenas duas das mais conhecidas):
• Ordens iceberg: digamos que um investidor institucional, uma dessas megaempresas, deseja comprar 10 milhões de ações da Petrobras. Se ele posicionar essa ordem de uma vez só, vai provocar imediatamente uma alta nos preços. Por isso, o robô HFT vai dividir essa ordem em milhares de outras ordens menores, a fim de não impactar demais na cotação. E mais: eu não ficaria admirado se, em algum momento, o robô HFT vendesse algumas ações se isso for necessário para manter a cotação em certo nível. E, assim, ao cabo de algum tempo, os robôs HFT conseguem comprar os 10 milhões de ações necessários a montagem de uma posição. Talvez de 5 mil em 5 mil ações, talvez menos, numa quantidade de ordens que ninguém sabe quantas serão ao fim
• Spoofing: essa é uma prática ilegal, mas acontece o tempo inteiro na bolsa de valores e pode ser visualizada com o uso das ferramentas adequadas. O book de ofertas é uma fila. Essa fila é liderada pelos melhores preços, não por quem chega antes. No spoofing, os robôs HFT posicionam ordens enormes em certas posições a fim de atrair o ativo para aquele nível de preço. Claro, porque seu eu quero negociar aquele ativo vou entender que aquela ordem enorme vai esgotar toda a liquidez e não conseguirei comprar ou vender. Terei que posicionar minha ordem em uma posição melhor. E o que acontece quando o preço chega ao nível do spoofing? Uma fração de segundo antes do preço chegar ali, a ordem é cancelada e reposicionada num ponto para o qual se deseja manipular o preço. Isso é considerado manipulação do mercado, mas acontece. Diariamente, em todos os ativos com liquidez.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ROBÔ HFT E LOW FREQUENCY?
Os robôs HFT, como vimos, têm a intenção de posicionar e reposicionar ordens de compra e venda em alta velocidade, de maneira a aproveitar as menores distorções de preço e entre demanda e oferta em um ativo, gerar ordens iceberg sem distorcer o preço através de ordens enormes e também de fazer spoofing, manipulando o preço.
Os robôs LFT (Low Frequency Trading) por sua vez trabalharão em uma frequência menor, pré-programada, comprando de tempos em tempos ativos a um certo preço médio durante uma certa duração.
COMO SÃO UTILIZADOS OS ROBÔS HFT NOS TRADES?
Os robôs HFT são utilizados nos trades desses investidores institucionais com a intenção de montar posições gigantescas durante um certo período de tempo.
Eles também são usados para manipular o comportamento do preço, tanto com ordens que têm a intenção de execução como com ordens que serão canceladas tão logo o preço se aproxime delas, antes de serem executadas.
Claro que eles estarão a um só tempo obedecendo a programação das mais poderosas mentes matemáticas do planeta (quem disse que aquela faculdade de matemática não pode dar dinheiro...), como também as intenções dos CEOs mais competitivos do mundo. Esses CEOs estão muito à frente das notícias que lemos nos portais e a que assistimos nos telejornais. Muitas vezes, eles estão informados semanas antes de quando o estagiário do portal ne notícias clica em “publicar”. Afinal, você realmente acha que o estagiário sabia do potencial danoso do corona vírus antes dos CEOs dessas companhias? Sério? Você nasceu ontem?
Aliás, geralmente os comandantes dessas companhias, muitas vezes são as fontes das notícias de que saberemos daqui a meses.
Então vale a pena saber ler o que eles estão fazendo na bolsa, com ajuda de seus robôs HFT, desde já.
COMO UM ROBÔ HTF TOMA AS DECISÕES?
É improvável que, um dia, saibamos os parâmetros que baseiam a tomada de decisões dos robôs HFT.
Em primeiro lugar, eu já devo ter dito umas três vezes aqui que a programação dos robôs HFT se dá por matemática avançadíssima, algoritmos complicadíssimos.
Não é só matematicamente inacessível. Essas coisas são guardadas como se fossem segredos de estado pelas empresas detentoras da tecnologia. Provavelmente, os programadores têm cláusulas de sigilo em seus contratos com multas pesadíssimas.
Sem querer comparar, lembre-se de que o Rei Minos prendeu o arquiteto Dédalo no próprio labirinto que projetou na ilha de Creta. A ideia era a de que Dédalo não contasse os segredos que o labirinto escondia para ninguém. Hoje, as coisas são mais civilizadas. Tudo acertado com somas de dinheiro e assinaturas digitais.
O fundamental que precisamos saber a respeito dos robôs HFT é que seu objetivo é resolver questões relativas a liquidez. Compra e venda de ativos em altos volumes. E, para seguir o volume, eu não preciso ser um gênio da matemática. Apenas estar munido das ferramentas certas, dos conceitos certos e de um entendimento correto do funcionamento do mercado.
Não, não sabemos quem está comprando e vendendo ou colocando ordens, mas basta saber que há grandes quantidades de negócios sendo realizadas, grandes ordens posicionadas para, então, nós mesmos tomarmos nossas decisões: se há volume elevado, pode ter certeza, há grandes players atuando.
QUAIS OS RISCOS E VANTAGENS DE UTILIZAR UM ROBÔ HFT?
O uso dos robôs HFT jamais será um inconveniente para os traders e investidores de varejo, uma vez que eles não têm acesso a essa tecnologia, a não ser indiretamente, caso estejam em algum grande fundo de investimento que faça uso deles.
O modus operandi dos robôs HFT, no entanto, está longe de ser inócuo. Os algoritmos de negociação ficaram particularmente famosos no ano de 2010, quando aconteceu o famoso Flash Crash, com um aumento repentino do aumento de volatilidade no dia 6 de maio daquele ano.
Robôs HFT distintos, programados para vender, começaram a disparar ordens uns dos outros, causando um efeito dominó. Para você ter uma ideia, o índice Dow Jones caiu 9%, isso sem qualquer motivo aparente além da atuação indiscriminada dessa tecnologia.
SAIBA COMO IDENTIFICAR ORDENS DE ROBÔS HFT COM O RAIO X PREDITIVO
O Raio X Preditivo é conhecido por seus conceitos de seguir o volume, a fim de detectar a atuação dos investidores institucionais.
E, no que diz respeito ao volume, não importa se é uma pessoa quem está operando ou se é um robô, se as ordens estão escondidas em ordens iceberg ou se o preço está subindo ou caindo por meio de spoofing: o volume não mente.
O volume se acumula ao longo das pernadas de alta e de baixa e, através dele, podemos detectar se o fluxo de negócios está subindo ou caindo e, assim, saber de que lado está o “dinheiro esperto”.
COMO O RAIO X PREDITIVO PODE TE AJUDAR
O Raio X Preditivo é a metodologia que sistematiza a Nova Análise Técnica através de conceitos e ferramentas. Os conceitos se especializam no volume, que denuncia a atuação dos investidores institucionais e as ferramentas colocam esses conceitos para trabalhar na prática, diretamente sobre o gráfico, de forma a proporcionar uma leitura rápida, intuitiva e eficiente do volume e sua influência sobre o preço.
Para o Raio X Preditivo, o volume é a causa dos movimentos de preço, sendo o verdadeiro combustível do mercado. O preço é mero efeito. No entanto, o observado é que diversos cursos disponíveis no mercado brasileiro se concentram nos assim chamados efeitos, portanto baseando suas decisões em condições passadas, como se essas pudessem se repetir no futuro. Há uma possibilidade de isso acontecer, mas a probabilidade é menor do que se observarmos as causas com prioridade.
Entendemos que, observando as causas podemos nos adiantar nos efeitos mais esperados, como as grandes e velozes movimentações de preços que, por vezes, os big players desencadeiam para causar pânico ou euforia do mercado.
Como boa parte do volume do mercado é de responsabilidade dos grandes investidores institucionais, também podemos dizer que o Raio X Preditivo é o estudo da atuação desses participantes, usem eles robôs HFT ou não.
Dessa forma, o trade e o investidor encontram zonas saudáveis de trade, com baixo risco e alta probabilidade de ganhos muito superiores a esse risco: stop loss curto e stop gain longo. Além disso, o trader pode sair da operação antes de chegar a esses objetivos de perda ou ganho caso o volume assim o indique. E pode, até mesmo, fazendo gerenciamento de risco, prolongar uma operação que já chegou a seu objetivo de lucro, caso o volume, da mesma forma, venha a aconselhar.
CONCLUSÃO
Os robôs HFT são uma realidade do mercado ignorada por muitos participantes.
Muitos inclusive fazem com que suas ferramentas de leitura ignorem as ordens dadas por essas ferramentas tecnológicas, deixando de lado talvez a parte mais importante do volume do mercado.
Os robôs HFT fazem parte da estratégia dos grandes players institucionais. Boa parte das ordens dadas por eles, de compra e venda, parte desses algoritmos.
Considerando que a participação dos grandes players gera o volume, talvez uma das formas mais eficientes para se defender desses autômatos programados para matar da bolsa de valores seja o Raio X Preditivo.