Eu quero que você imagine um avião que foi criado para carregar uma outra nave de grande porte “nas costas”. O Antonov NA 225 foi criado na década de oitenta pela falecida União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Sua missão: transportar os ônibus espaciais soviéticos. Ele é simplesmente o maior avião de asa fixa do mundo. Resumindo, é uma das maiores coisas feitas pelo homem que sai do chão e fica lá em cima pelo tempo que seu combustível permitir.
Ele é feito para transportar grandes cargas, mas mil e quinhentas pessoas cabem frouxo nele. A capacidade é de duzentos e cinquenta toneladas. Ao todo é capaz de tirar do chão, contando o próprio peso, seiscentas e quarenta toneladas.
Os números gigantes não acabam aí. Oitenta e quatro metros de comprimento. Oitenta e oito da ponta de uma asa à outra. Aliás, as asas têm uma área de mil metros quadrados. Os motores são dois Turbofans Ivichenco Progress D18T.
Eles são capazes de levar todo esse peso a onze mil metros de altura por distâncias de até doze mil quilômetros a oitocentos quilômetros por hora. Chega a ser inacreditável.
Se um negócio desses voar perto de você é impossível que você não note. Imagine que você está pilotando um pequeno avião monomotor e decide atravessar a pista quando um Antonov desses está levantando voo. Certeza que você vai morrer e, se bobear, o piloto nem vai perceber que passou por cima de você.
Se até o mais imprudente dos pilotos tomaria o cuidado de não decolar tão perto de um avião desses, porque tantos traders do varejo, pessoas como você ou eu, teimam em ficar na pista dos investidores institucionais?
Eu poderia explicar quem eles são, mas por ora só vou dizer: os investidores institucionais são os Antonov do mercado.
Eles movimentam tanta massa, tanto volume em ativos, em negócios, em ordens, e tudo isso em poucos segundos, que ficar em seu caminho é pedir para ser dilacerado.
A verdade é que isso acontece porque a maior parte dos traders não sabe que está no caminho desses aviões gigantes do mercado.
Eles não sabem como enxergá-los. Felizmente, há uma forma: o volume.
Sabendo ler o volume, não só saímos da frente da força esmagadora dos institucionais como também pegamos carona no Antonov, antes de decolar. Com um pouco de capricho, ficamos na janelinha.
Pense bem, o Antonov vai decolar e você só tem duas opções. Ficar no caminho ou ficar dentro dele. Qual você prefere?
Na vida real, você pode querer ficar no saguão do aeroporto. Mas no mercado só existem essas duas opções.
Quando os big players começam a atuar no mercado é muito fácil saber. Basta olhar o volume. Se o volume subir, um Antonov, talvez mais de um, estejam querendo sair do chão.
Sim, está mais do que provado que são os institucionais que movimentam noventa por cento do mercado.
É nessa hora que você embarca no Antonov.
Mas sabe o que é terrível?
Noventa e nove por cento dos traders de varejo se orienta usando apenas a movimentação dos preços. Sabe o que eles estão fazendo? Tratando aeromodelos em escala e Antonovs gigantes da mesma forma.
Estão pedindo para serem atropelados na pista de decolagem.
E dá-lhe se apoiar no preço e em indicadores derivados do preço. Enquanto isso, ignoram os pontos de decolagem dos Antonovs. Quando os Antonovs decolam, o preço nunca esquece. Assim como o ar fica marcado pela turbulência do avião, o preço fica marcado pelo enorme volume que o deslocou.
Esses níveis de volume direcionam a atitude do mercado em relação ao valor: o elemento mais importante a ser considerado ao avaliar locais de entradas e saídas de operações.
Vou repetir: quando um volume muito grande se movimenta em determinada faixa de preço, essa faixa de preço fica marcada. O preço não esquece o volume por um tempo mais ou menos longo, por vezes minutos, por vezes meses ou até anos.
Assim, o valor de um ativo quando passa por esse rastro, por essa cicatriz, terá certos comportamentos importantes quando passar por ele novamente.
Essas regiões de alto volume, onde 70% dos negócios do mercado ocorre em certo intervalo de tempo é o que chamamos de "zona de valor", aquele intervalo em que o grosso do mercado aceita negociar, onde os Antonov gostam de decolar.
Isso acontece em qualquer ativo da bolsa de valores.
Dentro das zonas de valor teremos ainda os pontos de controle (poc), pontos com volume concentrado. Acima da zona de valor, estamos em uma área de sobre-combra. Abaixo dela, em uma área de sobre-venda.
E, no meio disso tudo, pontos em que os pilotos do Antonov puxam o manche e aceleram os seis motores, tornando a força de arrasto em sua popa ainda mais avassaladora.
Como usar os pontos de decolagem?
Os nós de alto volume, os picos de alto volume, os momentos em que os Antonov do mercado dão aquela acelerada, podem servir como referência pra gente não ser atropelado.
Pense, você vê uma via muito movimentada. Vai atravessar de qualquer jeito? Vai atravessar a pé ou mesmo num monomotor uma pista onde estão decolando diversos Antonovs?
Os nós de alto volume podem servir pra gente saber: hmmm, daqui a pouco vai decolar um daqueles aviões. Vou pegar carona pra chegar onde quero. Mas vou dizer: é importante que você tenha as ferramentas corretas para mapear esses nós, esses pontos de aceleração.
Pra que você saiba mapeá-los para saber o momento certo de entrar numa decolagem.
Esses momentos de alto volume, mesmo que tenham acontecido no passado, são respeitados pelo preço. E isso não tem nada a ver com os fatos, notícias, acontecimentos que provocaram esse volume anterior. Especular sobre isso é pior que usar astrologia pra negociar.
O volume elevado em certa zona de preço é mais poderoso que qualquer acontecimento político ou econômico. A sua estratégia tem que estar atenta ao volume do passado, em que pontos os grandes volumes aconteceram. A gente tem que saber como o preço se comportou nesses nós de grande valor.
Se você ficar satisfeito com o comportamento do preço nesses pontos, se é possível fazer uma leitura preditiva a partir deles, esse ativo é um grande candidato a trades de alta chance de sucesso.